MULHER DE FORÇA
Mulher de Força
Por: Myrian Massarollo
Bora falar daquela primeira Baiana, daquela mulher que trabalhava na casa grande
de um senhor qualquer na Bahia. Vamos concentrar toda a nossa força imaginativa em uma
única mulher que vai representar todas as outras. Estou convidando todos vocês minhas
sambadeiras e meus homens do samba para participarem de um processo incrível e
maravilhoso que é o da criação de um personagem. Não um personagem qualquer e sim um
personagem calcado em fatos, na história contada e recontada primeiro de forma oral e
depois por meio de pesquisas sobre a primeira Baiana. Hoje vamos juntos imaginar e moldar
essa mulher de força, esperta, digna, altiva, que foi a precursora de uma grande e longa
dinastia que culminou nas Baianas de escola de samba.
Imaginem todos uma bela mulher vestida com panos de saco lavados e quarados até
a brancura extrema. Uma saia ampla cobrindo as pernas fortes, uma bata solta e um pouco
caída nos ombros de onde saia um pescoço esbelto que culminava em um rosto bonito e
sorridente. Na cabeça um pano semelhante ao da roupa enrolava os cabelos em um torço
produzido. Os olhos negros e expressivos cuja luz deixa evidente uma personalidade
determinada. Essa ainda jovem mulher pensava que não tinha sido tão difícil convencer a
senhora, e através dela o senhor, a permitir que ela como escrava de ganho vendesse seus
quitutes nas ruas. Alguns homens já trabalhavam como escravos de ganho no porto,
algumas mulheres também já faziam isso como lavadeiras e passadeiras para pensões.
Mas, o serviço de cozinha seria diferenciado em tudo. Foi fácil mostrar aos senhores que
quanto melhor estivesse vestida e asseada, mais fácil seria vender a comida. Chega ganhou
algumas rendas para enfeitar as roupas, colares já tinha alguns feitos com sementes, o resto
viria com o tempo. E veio.
Nossa bela jovem vendia cada vez mais, e mesmo dando a parte do senhor (que era
a maior) foi guardando dinheiro e um dia comprou a própria liberdade. Ela é outras mulheres
inspiradas por ela, e com igual trabalho, compraram com o suor do rosto e o produto das
mãos mágicas o maior bem da humanidade: a liberdade. Essas mulheres empoderadas,
continuaram a lutar e acabaram por montar em pedaços de terra nas periferias e nos morros
os primeiros terreiros onde podiam cantar e dançar para seus orixás, onde podiam cultuar
as tradições. Com seus ganhos agora integrais puderam comprar a liberdade de algumas
irmãs e irmãos, ainda que o preço sempre fosse mais alto para elas. Também adquiriram o
perigoso costume de abrigar e alimentar os que fugiam das senzalas, dando a eles algum
axé antes de partirem novamente. Mulheres de força para quem o perigo maior era não
honrar a missão de vida. Entendam leitores a enormidade dessas mulheres, muito antes da
abolição elas já libertavam a si mesmas e a todos que conseguissem. Elas não “ganharam”
a liberdade, elas conquistaram a liberdade. Essas Baianas (essa história se passou na Bahia
e se espalhou pelo país) deram origem a três importantes vertentes que por vezes se
mesclam: As Yás de Santo, as baianas de acarajé, e as Baianas de escola de samba. Mas,
isso é outra história que vamos trazer em breve, por agora: Mojubá, Mukuiu, Kolofé, Axé!!
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Uma personagem que nem precisa de muito movimento pois na sua maestria elas giram por si só. Um giro que conta muitas histórias de luta e de fé . E merece ser percebido de todos os ângulos com a mesma formosura . Mulheres faceiras que tem um brilho único construído com muita dignidade nas passarelas do samba . Muito bom conhecer um pouco mais das Baianas do Carnaval 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻😊 Sol Araújo
Parabéns Mulher de foca